O Colibri | Reflexão


 
Era um dia quente de verão, minha avó fazia fisioterapia num hospital meio longe de nossa casa às terças e quintas.
Como era ela quem ficava comigo enquanto minha mãe trabalhava era normal que eu a acompanhasse antes de ir a escola. Eu era uma criança de oito anos que falava mais que a boca, inventava minhas próprias histórias, tinha poucos livros e muita vontade de ter uma biblioteca. Aquela quinta-feira quente só se destacou por um motivo: um senhor de cabelos pretos tingidos, com bigode engraçado e um bom papo.
Estávamos no ponto de ônibus quanto notei um passarinho no meio fio obviamente morto e esmagado pelos carros. É incrível como me lembro exatamente de minhas palavras e até dos sentimentos. Estava indignada por alguém ter atropelado o pobre pássaro e não ter tirado ele de lá, como se fosse nada. Enquanto conversávamos sobre o pássaro, o tal senhor do bigode engraçado aproximou-se de nós dizendo que não pode deixar de ouvir nossa conversa e ficou admirado como uma criança estava comovida com aquela cena. Foi a primeira vez em que alguém me disse que eu tinha alma de escritora.
O senhor pediu o meu endereço dizendo que tinha escrito um texto sobre um colibri e queria enviá-lo a mim (não tinha muitos computadores na época), minha avó desconfiou e ele a tranquilizou mostrando a credencial de escritores do ABC, obviamente fiquei lisonjeada e após uns vinte dias chegou um grande e bonito envelope na minha casa com uma carta e um texto. Se não me falha a memória, na carta só haviam incentivos e ele disse que um dia ainda íamos nos encontrar nas livrarias da vida.
Por muito tempo eu guardei a carta, mas como me mudei muito de casa ele acabou se perdendo por aí. Infelizmente não lembro o nome do senhor, já o procurei por toda a internet, mas não o encontrei. As palavras dele ecoam na minha cabeça quase todos os dias e eu amo escrever, espero reencontra-lo um dia desses e dizer o quanto ele me inspirou. Se um dia eu lançar meu livro a dedicatória será para ele.

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